Aurora Boreal | Onde ver e como fotografar

No começo deste ano (janeiro/2014) eu estive em Tromsø/Noruega para uma caçada à Aurora Boreal (também conhecida como Luzes do Norte). Planejar uma viagem como esta envolveu bastante pesquisa, foram meses de bastante leitura, mas que valeram muito a pena pois me senti bastante preparado ao chegar lá.

Decidi escrever este post em uma tentativa de resumir aqui as coisas que considero serem as mais importantes a se saber se você está pensando em ir até o Ártico para ver e fotografar a Aurora Boreal.

Se preferir ir direto à algum dos tópicos clique nos links abaixo:

- COMO A AURORA BOREAL É FORMADA

- ONDE POSSO VER A AURORA BOREAL?

- QUAL A MELHOR ÉPOCA PARA VER A AURORA BOREAL?

- EQUIPAMENTO FOTOGRÁFICO

- O QUE VESTIR?

 

COMO A AURORA BOREAL É FORMADA

A Aurora Boreal começa no Sol.

O Sol age como uma enorme usina e a energia é criada nas profundezas do seu núcleo, onde a temperatura ultrapassa os 14 milhões de graus Celsius. Lá, a pressão é tão grande que átomos de hidrogênio são espremidos em um outro elemento: o Hélio. Esta fusão nuclear libera energia.

A energia é irradiada para fora do núcleo. Correntes elétricas de gás, também chamadas de plasma, criam campos magnéticos dentro do Sol. Em alguns pontos, campos magnéticos mais fortes saem pela superfície, que esfria, e pontos mais escuros se formam.

O plasma arrasta o campo magnético para fora da superfície. O campo magnético se estica e torce como um elástico, até que o elástico se quebra. Bilhões de toneladas de plasma são arremessados para fora do Sol, o que é chamado de tempestade solar.

A tempestade solar pode alcançar velocidades acima dos 8 milhões km/h. Depois de 6 horas, ela passa pelo planeta Mercúrio, após 12 horas pelo planeta Vênus e depois de 18 horas chega ao planeta Terra.

Quando a tempestade solar chega ao nosso planeta algo estranho acontece: um escudo invisível, o campo magnético terrestre, desvia a tempestade. Os campos magnéticos se juntam e criam um funil, que direciona o gás da tempestade solar para o lado dos polos com luz do dia. Essa é a Aurora diurna.

Em um movimento contínuo, os campos magnéticos se esticam mais para trás e se juntam. O “elástico” magnético se quebra, e gases da tempestade solar são direcionados pelas linhas magnéticas até os polos no lado da noite. Essa é a Aurora noturna.

Ou seja, sempre que vermos a Aurora dançando no céu, estamos na verdade vendo as linhas do campo magnético terrestre fluindo iluminadas :-)

ONDE POSSO VER A AURORA BOREAL?

A Aurora Boreal é visível próximo aos polos, formando uma grande oval, como se fossem anéis, que na verdade não ficam exatamente nos polos mas um pouco afastado deles.

Então, se você está no Hemisfério Norte, o anel fica aproximadamente entre 65 e 75 graus latitude e os melhores lugares para se ver a Aurora seriam no Alasca, norte do Canadá, Islândia, norte da Noruega, norte da Suécia ou norte da Finlândia. Se a Aurora for muito forte o anel se expande para latitudes mais baixas, mas infelizmente isso não é tão comum.

No Hemisfério Sul é um pouco mais difícil já que o anel fica quase todo em cima do mar. A aurora australis (ou luzes do Sul) pode ser vista de altas latitudes na Antártica, América do Sul, Nova Zelândia e Austrália.

QUAL É A MELHOR ÉPOCA PARA VER A AURORA BOREAL?

Existem alguns fatores a serem considerados para vermos a Aurora Boreal:

- Ciclo Solar: é a mudança periódica na atividade solar (incluindo mudanças nos níveis de radiação e emissão de matéria) e aparência (número de manchas no Sol, chamas, etc). Este ciclo tem uma duração média de 11 anos. Em condições ideais, o melhor momento para se ver a Aurora Boreal é quando o Ciclo Solar está em seu pico, e de acordo com a NASA, isto está acontecendo agora mesmo (2014). Então o melhor a fazer seria ver a Aurora Boreal neste ano ou no próximo, caso contrário você poderá ter que esperar pelo próximo ciclo… A Aurora Boreal também pode ser vista no período mais fraco deste ciclo, ela apenas não será tão frequente e/ou tão forte.

- Equinócios: os dias perto dos Equinócios (uma semana antes/depois de 20 de março e 22 de setembro) são quando as tempestades geomagnéticas – perturbações no campo magnético da Terra – são mais fortes. O bom disso é que este período não é tão frio, já que fica um pouco longe dos meses de inverno mais rigorosos no hemisfério norte.

- Lua Cheia: a Lua cheia não tem efeito algum nas tempestades solares e nas tempestades geomagnéticas. Ainda assim, a Lua cheia ilumina bastante o céu, e, embora não fosse prejudicar tanto a visualização de uma Aurora Boreal de forte intensidade, uma Aurora Boreal de fraca intensidade poderia não ser tão visível. A melhor coisa a se fazer é checar o calendário de fases da Lua e evitar a Lua cheia.

- Índice Kp: o índice Kp mede a intensidade da Aurora Boreal em uma escala de 0 a 9, mas normalmente veremos este índice entre 0 a 2 e de vez em quando 4 a 5. Quanto maior este número, mais ao Sul a Aurora será visível e mais intensa ela será. O site Soft Server News fornece uma previsão do índice Kp de 60 minutos e algumas outras informações úteis. Nas figuras abaixo podemos ter uma idéia de até onde a Aurora pode ser visível na América do Norte e Europa/Ásia de acordo com o nível do índice Kp:

  - Emissão de Massa Coronal (CME): ou Coronal Mass Ejection (CME) em inglês, é uma quantidade enorme de matéria e radiação eletromagnética arremessados no espaço pelo Sol. Se um CME vier em direção à Terra isto geralmente significa Auroras de grande intensidade. O site Spaceweather.com fornece informações atualizadas sobre CMEs vindo em direção ao campo magnético da Terra.

- Coronal Hole (Buraco Coronal): são áreas na atmosfera do Sol (corona) que são mais escuras, frias e possuem plasma de menor densidade que o normal. Isto permite que este plasma escape para o espaço e cause Auroras de grande intensidade caso atinjam a Terra. Durante o solar minimum (período mais fraco do Ciclo Solar), buracos coronais são encontrados principalmente nas regiões polares do Sol, no entanto eles podem ser encontrados em qualquer lugar no Sol durante o solar maximum (período de pico do Ciclo Solar).

- Solar wind speed (Velocidade do vento solar): geralmente fica abaixo de 400 km/sec, uma velocidade maior do que esta pode significar uma Aurora de intensidade considerável.

- Interplanetary Magnetic Field (Campo Magnético Interplanetário): em suma, a Aurora Boreal será mais intensa quando o valor Bz estiver apontando para o Sul. Não se assustem com os nomes e a sensação de informação demais, com pouquinho tempo você se acostuma e vai ver que não é nenhum bicho de sete cabeças.

EQUIPAMENTO FOTOGRÁFICO

Infelizmente nem todas as câmeras são capazes de registrar a Aurora Boreal. Câmeras que só possuem modo automático e semi-automático muito dificilmente irão captar as luzes. Seguem aqui as principais dicas sobre equipamento fotográfico:

- Câmera: será necessária uma câmera que permita ajustes manuais. O ISO, f-stop e o tempo de exposição terão de ser ajustados de acordo com a intensidade da Aurora, e claro, com a sua preferência pessoal. Comece com um ISO 1600 e vá ajustando a partir daí. Procure utilizar o formato RAW para poder reduzir o ruído da foto entre outros ajustes posteriormente. O modo Av (prioridade de abertura) foi o que melhor me atendeu durante a viagem.

- Lentes: prefira lentes claras que sejam grande-angular para que você garanta uma visão ampla. Um número de f-stop baixo (f/1.4, f/2.8, até mesmo f/4) permite que mais luz seja capturada pela câmera, reduzindo portanto o tempo de exposição e/ou o ISO. Esse tipo de lente costuma ser cara, então se você for usar um outro tipo de lente terá de compensar usando um ISO e/ou tempo de exposição mais altos.

- Foco: utilize o foco sempre no infinito. Dificilmente você conseguirá usar o foco automático se estiver em um local totalmente escuro. A melhor opção seria, antes de sair da cidade, focar sua câmera em algo o mais longe possível (infinito) e mudar para foco manual. Outra opção seria ajustar manualmente o foco para o infinito, o problema é que nem todas as lentes possuem um marcador de infinito confiável, portanto procure fazer alguns testes antes.

- Tripé: o tripé é um equipamento essencial para fotografarmos a Aurora Boreal. Opte por um tripé alto para maior conforto, já que você estará apontando a câmera para cima o tempo todo. Em uma noite de bastante vento, mantenha-o firme e imóvel pendurando um saco com pedras ou mesmo a sua mochila na coluna central do tripé. Outra opção também é remover o strap da câmera. Um tripé com isolante térmico nas pernas para proteger as mãos de tocar diretamente no metal frio também vale muito a pena.

- Baterias: em temperaturas muito baixas todas as baterias perdem carga mais rapidamente. Sempre tenha baterias reservas e mantenha-as perto do corpo, por exemplo, no bolso da camiseta, onde elas possam se beneficiar do calor corporal.

- Cartões de Memória: tenha sempre ao menos 2 cartões de grande capacidade. Se você pretende fazer time lapse prepare-se para levar mais cartões ainda, especialmente se for utilizar o formato RAW. Melhor sobrar memória do que faltar :-)

- Headlamp: aquelas lanternas que se prende na cabeça. A headlamp permite que suas mãos estejam livres para manejar a câmera, tripé, etc… Opte por uma com luz vermelha, já que a luz branca tira toda a sensibilidade dos seus olhos para a visão noturna. Os amigos/fotógrafos ao seu lado também agradecerão. Lembre-se que você provavelmente estará usando luvas, portanto, na hora da compra, considere um headlamp com botão liga/desliga de fácil acesso.

- Intervalômetro (opcional): útil não só para time lapse mas também pode ser usado como disparador remoto, evitando que a foto saia tremida. Outra alternativa seria utilizar o temporizador da câmera para o disparo.

Vale fazer uma observação aqui sobre os cuidados necessários para se evitar a condensação – o mesmo que acontece com uma garrafa de água gelada em um dia quente de verão. Ao deslocar a câmera e lentes de lugares extremamente frios para dentro do carro/hotel, a umidade pode danificar suas partes mecânicas/elétricas.

Uma boa dica é colocar a câmera dentro daquelas sacolas plásticas com “zíper” que utilizamos  para congelar/armazenar alimentos antes de ir para um lugar mais quente. O plástico protegerá a câmera deixando a umidade do lado de fora ao invés de no exterior/interior da câmera.

O QUE VESTIR?

Em qualquer lugar que você for para ver a Aurora Boreal é frio, portanto você precisa estar preparado. Se vestir adequadamente é fundamental para que você possa se divertir e garantir uma noite agradável.

As “camadas” convencionais não são tão eficientes em temperaturas baixas se você vai ficar parado em um local por muito tempo. Neste caso, você precisa de roupas mais focadas em reter calor, como suéters de algodão/cashmere e um parca. Algumas sugestões a seguir:

- Gorro: procure usar um daqueles gorros de esquimós, eles são muito eficientes contra o frio, mesmo com bastante vento.

- Suéters: importantíssimo para o isolamento térmico, se necessário pode-se usar 2 suéters. Lã e cashmere são os melhores materiais.

- Parca: agasalho forrado de penas ou fibra sintética. Opte por um parca com capuz para um aquecimento e/ou proteção extra na cabeça. Não há necessidade de ser a prova d’água.

- Cachecol (ou manta): proteção fundamental contra o vento, sempre tenha um enrolado no pescoço.

- Calças: opte por uma calça resistente ao vento e não muito pesada. Também não há necessidade de ser a prova d’água. Utilize sobre uma calça comum ou sobre um isolante térmico. 

- Meias: utilize uma meia de algodão com uma meia grossa de lã por cima.

- Luvas: também pode-se utilizar duas: uma comum de lã por baixo de uma outra mais grossa com isolamento térmico (luvas de ski).

- Calçado para neve: com uma base bastante espessa, já que a maior parte do tempo você estará pisando sobre um chão bem gelado, neve e/ou gelo.

- Aquecedores químicos para as mãos (opcional): parecem pacotinhos de naftalina, duram por até 6 horas e podem ser deixados dentro do bolso do casaco e servir como uma rápida fonte de calor. Vale muito a pena!

- Bebida quente: uma garrafinha térmica com café, chá ou chocolate quente – leve e você verá :-)

Bom, fico muito contente de poder compartilhar o pouco que aprendi e espero que essas informações sejam bastante úteis e ajudem muita gente a viver e registrar essa experiência fantástica que é ver a Aurora Boreal ao vivo.

Eu achei o spaceweather.com e o Soft Server News os melhores websites para encontrar estas e outras informações necessárias antes de sair por aí caçando a Aurora Boreal. Infelizmente eles só fornecem uma previsão de 1 a 2 dias, o que pode ser insuficiente para quem não mora em altas latitudes. Se este é o caso, então deve-se arriscar uma data e marcar a viagem. Maximize suas chances levando em consideração o ciclo solar, o período dos equinócios e a Lua cheia. Procure ficar no lugar escolhido no mínimo 1 semana, para que você tenha algumas noites para tentar caso o céu esteja encoberto e/ou a Aurora não esteja tão intensa.

Se você não tiver um guia particular é importante tentar conhecer/entender a cidade e os locais para observação antes de ir (o Google Maps e o Stret View são seus melhores amigos). Caso esteja dirigindo, cheque se existe alguma cidade por perto que você possa ir para tentar fugir de céus encobertos e mau tempo. Se você planeja tirar fotos da Aurora e incluir uma paisagem (montanha, água, etc), tente explorar o local durante o dia já que dificilmente você terá uma boa visão do local durante a noite, e lembre-se: fique longe das luzes da cidade!!

A Aurora pode vir e ir. Pode aparecer por 10 segundos, se apagar, e voltar depois de 1 hora ou alguns minutos com um show incrível que é completamente diferente do anterior. Seja paciente quando estiver no frio e escuridão, tenho certeza que você será recompensado.

Se você achou que essas dicas são úteis compartilhe! Qualquer dúvida deixe suas perguntas aqui nos comentários abaixo e responderei assim que possível. Me siga no Facebook, Twitter e Instagram.

 Referências: 1) Inside the Sun to Earth’s Pole 2) Spaceweather.com 3) Soft Server News 4) Cold Weather Dressing